2 de nov. de 2010

A Bóia...


"Ele sempre chegará antes do pior"

226 mil mortos não bastaram! Nem as ilhas afundadas com corpos espalhados nas árvores foram suficientes. Os números do terror aumentariam e a fúria da natureza solaparia mais vidas. Em 2004, a palavra tsunami aterrorizou o mundo. O Oceano Índico abocanhou pessoas e terras numa onda – tão singular quanto assombrosamente mortal. Tamanha destruição apelou por um sistema de alarme que alertasse vidas futuras pra não serem perdidas novamente. No entanto, dias atrás, a Indonésia foi dormir em paz e acordou num inferno de águas. Outro maremoto estarreceu lares varrendo arquipélagos com tudo que havia em cima. As estatísticas trágicas contabilizaram mais lares despedaçados em escombros. Até agora, cerca de 700 pessoas foram engolidas pelo tsunami e outras anonimamente desapareceram sob as águas. O que houve? Dormiram confiando no milionário sistema de segurança – cravejando 300 bóias no mar – que não funcionou? Confiar em coisas de homens nunca é seguro. Somos regularmente lembrados disso.
Detesto ser confrontado com a incompetência humana de se proteger do imponderável. Construímos nossas torres de Babel pra se desmoronarem feito muros de Jericó. Nada adianta! O epicentro da dor sempre rouba nosso sono – arrastando junto cada sonho. Gastamos fortunas pra nos livrar de um mal que cisma em nos assediar. Por fora desmoronamos ecoando a mesma fragilidade que também dói por dentro. Pedimos mais, e recebemos tão pouco. Por isso, regamos nossos travesseiros noites sem fim com lágrimas jamais semeadas por nossa vontade. Machucados, prosseguimos – com nossas bóias falhas.
Outro dia, na piscina, presenciava um momento que doía meu cotovelo. Minha filha não tem idade pra pular n’água, então fico refém de invejar os pais com este privilegio. Um paizão coruja brincava com sua filha pulando direto no seu colo. Ela não tinha medo da água, nem da altura, apenas voava às cegas nos brações do super-pai-heroi. Algo me distraiu por um tempo e, quando olhei de volta, a garota já estava pra pular novamente – mas, desta vez, tinha na cintura uma linda bóia inflável de plástico rosa em formato de peixe. Seu desafio iria pra segunda fase. O pai sorriu e motivou-a pular segurando a bóia. A garota correu no embalo, agarrou-se no peixe, arregalei meus olhos, e ela voou rindo pelos ares. O que ninguém previu foi o próximo segundo. Ela aterrissou sobre a água na mesma velocidade com que desapareceu dentro dela. A bóia ficou na superfície enquanto seu corpo infantil escorregou por dentro engolido pelo chão da piscina. Perdi o fôlego. Um calafrio paralisou a espinha. Centésimos eternos arrancaram daquele pai a reação mais instintiva da paternidade: proteger a cria! O homenzarrão mergulhou no fundo e puxou instantaneamente a filha – assustada e sem entender nada. Ela agarrou o pai no pescoço, chorando, e ficou envolta em seus braços até ser tirada da piscina. Logo depois, enquanto dormia em seus ombros e a bóia rosa flutuava esquecida no canto, pensei comigo: "não existe nada tão seguro no Universo como os braços do pai".
Por que nós, humanos, não aprendemos de vez? Não tem bóia no mundo capaz de proteger o que só Deus pode consertar. Plástico cheio de ar não se compara a braços cheios de poder. Quer ver? Você busca a sorte do dia no horóscopo ou na Palavra de Quem sabe tudo? Um lar não se salva só com terapia, mas com o culto familiar. Autoestima não se desafoga com autoajuda, e sim no seu valor prometido na cruz. Filhos impossíveis e incompreensíveis? Somente de joelhos dobrados junto à Onisciência. Dívidas impagáveis asfixiando sua idoneidade? Acerte suas contas primeiro com o Pai do Céu. Ou seja, não há alternativa humana capaz de substituir o espaço do Criador dentro da criatura. Fomos concebidos pra recorrer diretamente Àquele que conhece a profundidade da piscina.
E quer ver uma roseira brotar no mangue? Apesar da onda devastar com más notícias, a esperança sempre irrompe em meio ao caos. Um tsunami sacrifica muitos, mas não todos. Uma bebezinha com a exata idade da minha filha, 18 meses, surgiu como um diamante dentro do necrotério – brilhando vida. Na remota ilha de Pagai Utara, Indonésia, equipes de resgate encontraram a criança viva três dias após a morte dizimar seus pais. A pequena sobrevivente do impossível foi achada dentro de um cano de escoamento – foi um beijo de paz na pancada da tragédia.
"Aprendi a viver confiante em toda e qualquer situação" (Filipenses 4:11). Paulo largou a bóia de peixe crendo na força do Pai e descobriu o segredo da vitória dentro do vulcão em erupção: "tudo posso naquele que me fortalece" (Filipenses 4:13). Ele sabia que a lição aprendida não era fácil de ser praticada. Mas também notou, a tempo, de que não haveria outra saída: na turbulência de um mundo assim, só mesmo um Deus assim. Sempre haverá refúgio garantido naquelas mãos perfuradas. Acredite, não tem outro lugar! Só nos braços do Pai pra você se sentir em aconchegante segurança.
Duas bóias e duas histórias. Garotas distintas, mas com uma esperança em uníssono: a confiança se fundamenta em Quem faz jus à confiança. Outra vez, milhões de dólares buscarão consertar a bóia que não funcionou lá no Oceano Índico. Aquele pai comprará outro peixe inflável agora com espaço distinto para cada perninha não escorregar. E nós continuaremos descobrindo sempre algo mais deste Deus que é muito mais. Se as bóias falharem, as mãos do Pai jamais fraquejarão. Você pode deslizar por dentro do plástico, mas Seus braços lhe alcançarão lá em baixo. Esteja certo disso! Ondas desavisadas podem varrer seus sonhos do mapa – sobreviva ainda que dentro de um bueiro. Porque a falibilidade humana nunca será páreo pra Onipotência divina. E quando você se deparar com os artefatos de segurança falhos, mire no poder de Deus – e confie.

Ele sempre chegará antes do pior...